quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

A drink in a small world

Cheguei há pouco a Auckland, e ao contrário do que a metereologia previa no início da semana (e me motivou a antecipar o regresso em 24 horas) a chuva não domina o horizonte, pelo que me é possível ver, da janela do décimo sexto andar do meu quarto no Sky City Grand Hotel, toda esta zona da cidade, da Marina até ao lado de lá da Baía.

Aproveitando a vista simpática e o excelente leque de opções do room service do hotel aceitei uma sugestão que me foi feita ainda em Lisboa, de provar a Below 42, a vodka neozelandesa, que segundo o barman inglês do lounge do Largo da Palma, ali ao Príncipe Real, é algo como the new black desta bebida de origem polaca (wodka signfiica água em polaco) que toda a gente toma por invenção russa, sucedendo ao Grey Goose, marca francesa de excepcional qualidade a que, confesso, me afeiçoei nos últimos tempos, ao ponto de não deixar de procurar por ela em quaquer free shop por onde passe, tentando evitar os abusivos cinquenta euros que pedem em Lisboa por uma simples garrafa de 750 ml (versus 33 por uma garrafa de litro em Barajas, 35 em Frankfurt ou 34 em Genéve).

Estranhamente — ou talvez não tão estranhamente num país onde as campanhas contra a violência doméstica associada ao álcool dizem que it's not about the drink, it's about the way you drink, ou seja bebe à vontade desde que não batas na mulher — os pedidos de álcool não têm taxa de room service. Se quiser pedir uma torrada no quarto pago uns dólares, mas se me quiser embebedar, desde que a minha consciência não tenha problemas, não será a carteira a colocar objecções. Assim, custou-me ainda menos do que seria previsível desobedecer à regra, que sigo escrupulosamente em Portugal mas tenho invertido nos Antípodas, de não beber antes do Sol desaparecer do horizonte.

Com regra ou sem ela, a minha consciência está tranquila. Se por um lado não costumo beber álcool sozinho, nesse caso isso implicaria vinte e seis dias sem beber sequer uma cerveja (e este foi o meu primeiro vodka, por acaso), pelo que essa parte do problema há muito foi resolvida. Por outro lado, mesmo descontando a influência subliminar do product placement da indústria das bebidas no cinema, se pensar que para chegar a Lisboa a partir do momento em amanhã entre no avião da Cathay Pacific vou precisar de trinta e duas horas entre aviões, free shops e executive lounges, a expressão que me vem imediatamente à cabeça é a frase cinematográfica comum em ocasiões de pressão: I need a drink.

Armado da vodka tónica, de um prato de cajú salgado e do portátil, fiz o que faço quando decido dedicar-me à inactividade no estrangeiro: abri os sites dos jornais portugueses. Detectei, nos primeiros trinta segundos, duas curiosidades representativas da forma a Terra se tornou, efectivamente, num planeta pequeno, pelo menos do ponto de vista de quem está do lado oposto do Mundo há vinte e quatro dias.


No site do DN...
fiquei a saber que o tecto da entrada do Venetian, o maior casino do mundo, que o empresário norte-americano, de Las Vegas, Steve Wynn, abriu há pouco tempo em Macau, é uma cópia da Capela Sistina, a tal que obrigou Miguel Ãngelo a ficar quatro anos seguidos de barriga para cima, esforço que ainda hoje todos agradecemos ao ir ao Vaticano.
Quando entrei lá há uns dias fiquei logo com a ideia que conhecia aquilo de algum lado. Agora, graças à reportagem do DN sobre a inauguração do MGM Grand, o edifício cuja arquitectura assente num jogo de volumes desencontrados, em escala monumental, mais me interessou no novo skyline de Macau (e que o mais antigo diário português descreve, aliás, de forma adequada), fez-se luz.


No site do Expresso...
vi a notícia de que Peter Jackson, nado e criado nestas ilhas que tão bem me têm recebido, ia realizar The Hobbit, a prequela (sic) do Senhor dos Anéis, depois de longa discussão com a New Line Cinema, que produziu o filme mais conhecido alguma vez rodado na Nova Zelândia.

Jackson vai ser um dos realizadores executivos, o que quer que isso seja — na terminologia de Hollywood executivo normalmente significa o inverso, ou seja será outra pessoa a ter o trabalho de realizar o filme —, e a primeira conclusão a tirar é que se a primeira triologia cinematográfica resultava de um trio literário de JRR Tolkien (que eu por acaso li), desta vez um único dos livros que se desenrola no mundo de fantasia que o escritor inglês concebeu no tempo livre nas trincheiras da I Guerra Mundial vai ser transformado não num, mas em dois filmes. Milagre da multiplicação dos pães, em versão californiana.

Só vi a abertura da notícia do site do Expresso. A restante informação, e os detalhes sumarentos da luta entre o barbudo mais conhecido da Nova Zelândia e os tubarões dos estúdios foram tirados do Otago Daily Mail, que comprei por 1 dólar para acompanhar o almoço no Vudu Cafe, de Queenstown.

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