
Para despedida, para além de um último acesso consumista, comprando o presente que me faltava para dar à dezena e meia de pessoas que ajudaram a proteger-me as costas no escritório, e ainda uns ténis que tinham despertado a minha atenção nestes últimos dois dias, optei por repetir a actividade radical da antevéspera, e sobrevoei a cidade de parapente.
O vôo de hoje foi bastante mais prolongado do que ontem, um lucky break nas palavras do meu piloto. Se à saída havia dúvidas que as condições fossem as ideiais, conseguimos apanhar uma sucessão de térmicas (correntes ascendentes de ar quente) que nos permitiram subir bem acima do ponto inicial, e obter uma perspectiva fantástica da cidade e do Lago Wakatipu.
Completámos o vôo, que se prolongou por uma boa meia hora, com um conjunto de espirais apertadas até ao campo que serve de pista de aterragem, em pleno centro de Queenstown, e apesar de poder dizer ao piloto que parasse ou abrandasse aquela vertigem não o fiz, já que me pareceu adequado terminar a estadia nesta cidade de viciados em adrenalina com a maior descarga da dita cuja da minha estadia.
Dentro de vinte a trinta minutos irei para a Gate 6, seguro de que terei saudades desta terra onde até o embarque no aeroporto se faz a um ritmo tranquilo, sem pressas desnecessárias e sem ninguém se acumular à espera do avião antes de tal ser estritamente necessário (pelo que a Gate só abrirá mesmo uns minutos antes de partirmos) e nas lojas as pessoas não se limitam a perguntar como estamos, mas insistem em saber, com genuína preocupação se estamos having a nice day today?
Dentro de três dias, que na prática serão menos de dois, já que vou recuperar agora, e de uma só vez, o meio dia que perdi gradualmente em fusos horários ao vir para cá, estarei em Lisboa. Tenho uma pontinha de saudades de casa, como qualquer bom português, mas nada que faça sombra à certeza mais profunda que ocupa agora o meu pensamento: que a partir de agora passarei a ter saudades deste sítio também, que tive a boa ideia, uma das melhores da minha vida, de incluir no roteiro para carimbar o quinto continente no passaporte que há nove anos e meio tirei para conhecer o Tibet.
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