Num momento de distracção aceitei há uns tempos o desafio de um amigo meu para escrever algo que fosse remotamente publicável, por outras palavras, ou melhor, nas palavras dele, um livro.
Ele é um entusiasta de livros que acredita (vá-se lá perceber porquê) que eu sou capaz de escrever um e, mais do que isso, que tenho o dever de o fazer. Eu sou alguém cuja principal fraqueza é o tamanho do ego, que me leva a distraír-me facilmente com elogios, pelo que ambas as coisas juntas resultaram numa associação que eu chamaria, no mínimo, criminosa.
Claro que só a distracção explica a veleidade da promessa — e eu gabo-me de cumprir sempre o que prometo — já que necessitei de uma viagem ao lado oposto do Mundo para ter um pretexto para voltar a escrever por outra razão que não fosse responsabilidade profissional, ou mais prosaicamente ganhar dinheiro ao final do mês.
Há anos a fio que não escrevia com esta constância e prazer, pelo que foi irrealista comprometer-me a passar do oito ao oitenta num único passo, da página colocada na máquina de escrever há mais de quinze anos para o manuscrito editável à razão de cinco mil palavras por mês.
Contava usar este blog como desculpa para me escapar por mais um tempo à aposta com o meu amigo, e às dez mil palavras que me tinha comprometido entregar em Janeiro. Já tinha, inclusivamente, passado este blog pelo crivo da contagem de palavras do MS Word, verificando que excediam as tais dez mil, o que à partida me garantiria alguma margem de tolerância.
O plano era enviar-lhe, à chegada a Lisboa, o endereço desta página, como prova da bondade das minhas intenções, e do facto de eu ter efectivamente ocupado o meu tempo livre a escrever.
Tudo teria corrido na perfeição, se ele não tivesse entretanto descoberto este blog (em nova distracção motivada pelo ego, coloquei o endereço no meu nickname do messenger).
Parece-me que agora fiquei sem desculpa. A única coisa que me consola é que quando começar, finalmente, a cumprir a minha palavra, se terão passado bem menos que quinze anos desde a última vez que escrevi sem intenção de ganhar dinheiro com o resultado.
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