
A primeira parte da estrada desenrola-se junto ao mar, e o dia claro e sem nuvens de hoje tinha dado ao Pacífico uma coloração azul clara, que faria lembrar as Caraíbas não fosse a temperatura que me obrigava a usar duas camadas de roupa para poder manter a janela aberta.
Passando depois para o interior entrei no planalto que antecede a descida para a planície de Canterbury, onde estava o meu destino de hoje. O calor da hora do almoço e a digestão fizeram-me aceitar o conselho da prevenção rodoviária neozelandesa, que aqui está por todo lado, em tabuletas que nalguns casos até carneirinhos têm: Feeling Sleepy? Give it a break, e acabei por estacionar junto a um pequeno lago e dormir uma retemperadora sesta (uma power nap, como dizem os americanos) de meia hora, que me permitiu fazer o resto da viagem acordado.
A paisagem até à planície é um cruzamento entre o Alentejo e o campo inglês, com a estrada rodeada de aglomerados de montes como vemos nalgumas zonas do Sul de Portugal e da meseta espanhola, mas em vez do terra e castanho é antes o verde, mais escuro ou mais vivo, que pinta totalmente o quadro, de uma forma que só tinha visto no húmido, mas plano, campo das ilhas britânicas.

Não é por acaso que as autoridades nos avisam para descansar se estivermos cansados: se a principal causa de acidentes em Portugal é o excesso de velocidade, aqui o que os causa é com toda a certeza o inverso, a facilidade com que se é vítima da monotonia, numa estrada que parece ocupada por autómatos em cruise control, de tal forma que fiz o percurso raramente passando os cem à hora (o limite na estrada) e só por uma vez fui ultrapassado.
Para quem vem de um país que faz do excesso na estrada uma forma de vida, é no mínimo estranha a facilidade com que me adaptei a este ritmo neozelandês. Um pouco mais depressa do que eles, mas reduzindo a velocidade sempre que vejo um sinal de trânsito que o aconselhe. No fundo estar do lado oposto do Mundo parece ter-me tornado num exemplar único: o português que não passa das marcas.
Sem comentários:
Enviar um comentário