segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Vinte e um dias

Estava no lounge da Cathay Pacific no aeroporto de Hong Kong — bendita hora em que a minha agente de viagens me sugeriu esta companhia, com o seu serviço que só podia ser asiático, e o espaçoso lounge do aeroporto-sede com Wi-fi, comida, bebida e café de borla, fichas para ligar tudo o que me apeteça e senha para a fila prioritária da alfândega australiana — entretido a actualizar-me com as novidades de Portugal e a pôr a funcionar o meu iPod novinho em folha quando me ocorreu um pensamento: ainda faltam vinte e um dias para chegar a Lisboa.

Se por um lado esta primeira semana incompleta (aterrei em Hong Kong na manhã de quarta) pareceu ter passado num instante, por outro não deixo de ter a sensação que já saí de Portugal há muito tempo. A prova mais cabal deste sentimento tive-a quando olhei para o site do 'Público', e demorei um pouco a perceber o título da notícia de maior destaque: que o FC Porto tinha "recuperado a dignidade".

Foi preciso puxar pela memória para me lembrar que a minha equipa tinha perdido em Liverpool, há uns dias, por números pouco habituais, embora com a atenuante de ter sofrido três golos em doze minutos, e que no Sábado jogava com o Benfica na Luz, um jogo decisivo de que eu normalmente não perderia pitada.

Ora se antes de iniciar o meu percurso até aos antípodas tinha assumido que perder este clássico de futebol era um mal menor, claramente ultrapassado pela importância da viagem e pela vontade que tinha de a fazer, confesso que nunca me passou pela cabeça que fosse pura e simplesmente esquecer-me do jogo.

Se pensar um pouco nisso não é, no entanto, muito difícil de encontrar uma explicação: no fundo o objectivo primordial de todas as minhas escapadas intercontinentais é precisamente, para citar as palavras que profiro recorrentemente quando falo deste tema em pleno quotidiano lisboeta, ganhar distância suficiente para conseguir "esquecer-me que isto existe".

Planeei a viagem para ser uma adaptação gradual, com um nível progressivamente mais baixo de familiaridade e cosmopolitismo: primeiro Hong Kong e Macau, a metrópole mais vibrante e internacional da Ásia com umas pinceladas de nostalgia e de puro circo à moda de Las Vegas, depois Sydney, onde esperava combinar um pouco da praia - e aqui provavelmente a metereologia trocou-me as voltas - com uma cidade que valerá com toda a certeza a pena conhecer e visitar como turista, e finalmente a Nova Zelândia, onde depois de uma escala rápida em Auckland vou desbravar a Ilha Sul, com os seus horizontes largos e território escassamente povoado, onde à partida não será difícil desfrutar de momentos em que dia-a-dia que me espera em Lisboa parece não existir.

O que é curioso é que não me sinto minimamente afectado pela expectativa do que será tudo isto, nem do que será fazê-lo sozinho, na primeira viagem a solo que faço na minha vida. Vou simplesmente ver como corre, um dia de cada vez, nos próximos vinte um dias.

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